Alunos do curso de Licenciatura em Filosofia - EAD da Universidade Federal do Espirito Santo (UFES).
terça-feira, 26 de abril de 2016
A ÉTICA NA ANTIGUIDADE GREGA.
O
contexto ético anterior a Aristóteles
“A noção de virtude nasce,
provavelmente, com os escritos de Platão, o qual além de propor uma concepção
ética própria, relata também as principais ideias de seu Mestre Sócrates”. Inicialmente,
Platão se responsabiliza por adotar o conceito de virtude que hoje em dia é
conhecido como excelência moral. Para Platão, os animais, os entes artificiais
e a cidade fazem uma atividade própria deles. Dessa forma, o homem pode exercer
uma atividade sua, ele pode exercer bem ou mal, entendendo virtude como um tipo
de perícia.
Sócrates não coloca diferença nenhuma
entre uma razão teórica e uma razão prática e aniquila as funções da razão ao
conhecimento teórico, para ele se um homem é virtuoso ou vicioso pode-se notar
através de suas ações se serão voltadas para o bem, não sendo terá o
comportamento malvado. E leva em consideração de que tal conteúdo pode ser
objeto de ensino. Porém, Aristóteles mostra o valor da razão no instante de
direcionar a conduta humana, pois não se pode reduzir a ética à prática da
razão.
Assim, Platão partilha a tripartição da
alma dizendo que é essa função que norteia a conduta do homem através da razão
teórica. As virtudes são muitas cada parte da alma pode trabalhar de forma
excelente a sua própria função. Todas as capacidades da alma são independentes
no seu próprio agir, porém a razão coloca a unidade orgânica da alma, as outras
partes são guiadas pelo componente racional que por sua vez entra em harmonia e
equilíbrio. O que Platão aceita Sócrates rejeita de que há uma diferença entre
as faculdades da alma e só entram em concordância quando se trata de afirmar
que a pessoa malvada ou viciosa é aquela que a parte racional da alma é
suprimida pelo domínio das partes emotivas e nutritivas.
A
ética aristotélica, contra a ética de seu mestre, é imanente, tendo seus
embasamentos na realidade empírica do mundo, questionando as voltas dos
comportamentos humanos e na organização social. As cobranças com afinidade à
vida na polis e a realidade do homem forma o teor das ideias, e são ambas as
responsáveis pela opção dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela
definição das condutas dos seres humanos. As suas teorias éticas eram realista,
empirista equivalência à visão idealista e racionalista de Platão. A ética
aristotélica começou com o estabelecimento da noção de felicidade. Nesta
definição, posso ser considerada eudemonista por buscar o que é o bem agir em
escala humana, o agir segundo a virtude – diferentemente de Platão, que buscava
a essência das ideias de felicidade e da ideia do Bem sem relacioná-las diretamente
à prática. A felicidade é definida como certa atividade da alma que vai de
acordo com uma perfeita virtude. Partindo desse ponto, faz necessário saber
mais, sobre o que é uma virtude perfeita e, portanto, faz necessário, o estudo
da natureza da virtude moral.
A
virtude, a doutrina do justo meio, a noção de escolha deliberada e a noção de
disposição são conceitos que norteiam à ética aristotélica. A virtude é a
capacidade de fazer da melhor maneira possível uma função. A doutrina do justo
meio está vinculada a noção de mediedade aquilo que está entre o excesso. A
noção de escolha deliberada, Aristóteles garante que esta está ligada ao uso da
razão na determinação das ações. A noção de disposição ou hábito, o filósofo
mostra que essa parte da virtude ética está ligada à parte irracional da alma e
que não se pode ensinar utilizando razões ou demonstrações; no entanto, é
necessário que ela seja educada.
A
virtude ética
Para Aristóteles, a felicidade não está
ligada aos prazeres ou riquezas, mas à atividade prática da razão. Em sua
opinião, a capacidade de pensar é o que há de melhor no ser humano, uma vez que
a razão é nossa melhor guia e dirigente natural.
Em todos os seus atos, o homem se
orienta necessariamente pela ideia de bem e de felicidade e que nenhum dos bens
comumente procurados (a honra, a riqueza, o prazer preenche esse ideal de
felicidade. Em seu livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles mostra- nos que o
homem se torna o que é através do hábito. A prática contínua de uma atividade
ou de um comportamento nos possibilita internalizar aquele hábito, pois somente
a prática leva a excelência.
Esse raciocínio serve para todas as
atitudes humanas. A felicidade para Aristóteles corresponde ao hábito
continuado da prática da virtude e da prudência. Por sua própria natureza os
homens buscam o bem e a felicidade, mas essa busca só pode ser alcançada pela
virtude. É somente através do nosso caráter que atingimos a excelência, a boa
conduta, a força do espírito, a força da vontade guiada pela razão, nos leva a
excelência.
Dessa forma a felicidade está ligada a
uma sabedoria prática, de saber fazer escolhas racionais na vida. Para
Aristóteles, toda escolha exige uma mediania, um equilíbrio entre o excesso e a
falta. Portanto, devemos sempre escolher, o meio termo, sendo moderados em tudo
o que fazemos na vida. Somente assim atingiremos o bem supremo, a felicidade.
A
essência da virtude moral
Após afirmar que a excelência da função
irracional da alma, isto é, a virtude ética ou moral, é uma disposição,
Aristóteles entende que não é suficiente definir apenas o gênero, é importante
também destacar ou reconhecer a sua diferença específica, sendo assim, a
virtude moral é uma disposição que como diferença específica, visa ao meio
termo ou mediedade, o que para ele é a regra áurea do agir moral, “nada em
excesso”, o excesso destrói qualquer tipo de virtude.
Aristóteles enfatiza o conceito de
mediedade ao atribuir importância às emoções, destacando inúmeras vezes que é
preciso procurar a proporção entre os excessos das mesmas, ou seja, nada em
excesso em relação às emoções. “o
excesso e a falta destroem a excelência [...], ao passo que o meio termo a preserva.
(ARISTÓTELES, EN II 6, 1106B13)”.
Aristóteles salienta que “a justa medida
deve ser pensada em relação ao agente” e em relação às circunstâncias nas quais
a ação acontece, ou seja, “numa situação diferente, em circunstâncias
diferentes, com pessoas diferentes, a justa medida pode variar”, não sendo
única e igual para todos. Porém, para Aristóteles, “a virtude implica a busca
de um equilíbrio entre o sentir excessivo e a apatia”, e isso deve ser aplicado
não apenas no caso das emoções, mas naturalmente, também as ações. A mediania é
relativa ao agente e a circunstância nas quais a ação se produz, e uma vez
determinada quais ações e as circunstâncias, a ação equilibrada certa,
virtuosa, excelente será a mesma para todos, pois a virtude ética ou moral é
uma disposição, ou seja, um hábito adquirido através de repetições de ações,
ligado a uma escolha que consiste numa mediedade que é determinada pela reta
razão.
Assim,
“a virtude: é uma disposição ligada à escolha deliberada, que consiste em uma mediedade
relativa à nós, a qual é determinada por
uma razão, isto é, como a determinaria o homem prudente. (ARISTÓTELES, EN II 6,
1106ª36-37)”.
A Sabedoria prática e sua excelência
Aristóteles, afirma que a essência da
virtude moral, o meio termo, é determinado por um princípio racional, para
tanto examina a noção de “phronesis”,
traduzido como “prudência”, considerando que “acima das virtudes éticas existem
as virtudes da parte mais elevada da alma, isto é, da alma racional, chamadas
virtudes dianoéticas. Aristóteles faz então, uma diferença da parte racional
que apenas se ocupa de princípios teóricos, que não tem nada a ver com ética, e
uma parte racional que pelo contrário determina justamente o que é bom ou ruim
pelo homem; distinguindo uma razão teórica, que não tem nada a ver com a
virtude moral, e uma racionalidade prática, que é justamente aquela parte da
razão que diz no tocante as ações humanas.
A sabedoria prática é a excelência da
parte racional da alma, a “phronesis”,
que consiste em saber dirigir corretamente a vida do homem, é a virtude que
sabe bem escolher, ou seja, saber deliberar, saber dizer para o homem qual é o
seu próprio bem. Assim temos por “phronesis”,
uma disposição, uma regra que determina a correção do critério da escolha ou da
decisão, ou seja, a razão decide qual o caminho melhor para alcançar o fim
posto pelo desejo, e é no ato de deliberar que a razão pesa as alternativas.
Então, para que uma ação seja ética,
seja moralmente boa, a razão deverá determinar quais são os meios melhores para
alcançar de forma mais proveitosa o fim posto pelo desejo. Quando o desejo do
fim está presente, a deliberação começa a trabalhar, a estabelecer quantas e
quais ações são melhores e necessárias para alcançar o fim, logo, para que
minha ação seja moral, é preciso ter uma excelência no desejo que se chama de
virtude moral, porque não se pode desejar qualquer coisa, o desejo deve ser bom
e ter uma boa deliberação.
“Aristóteles enfatiza que a excelência
da razão prática é a capacidade de deliberar bem acerca daquilo que é bom para
o homem”, e para tanto é necessário entender que no ato de deliberar, para que
uma ação seja realmente virtuosa deve existir relação entre a parte irracional
e a parte racional da alma, pois quando deliberamos a disposição moral depende
da presença da parte racional, pois a virtude moral sem a virtude racional é
privada de direção, enquanto a virtude da parte racional da alma sem virtude
irracional seria privada de conteúdo, seria como dizer que emoção sem razão é
desgovernada, mas a razão sem emoção está sem um fim, está vazia.
Assim, para Aristóteles, não basta ter
capacidade de se tornar virtuoso, “nem uma ação justificada apenas pelas
disposições morais torna uma ação propriamente virtuosa”, e é através do ato de
deliberar que se dará a relação entre a virtude ética e a virtude dianoética,
pois será a “deliberação que acarretará a noção de responsabilidade moral que é
um fundamento de qualquer ética.
O
voluntário e o involuntário, condição prévia da harmonização entre a inclinação
natural e a razão prática
No livro, Ética a Nicômaco, Aristóteles, procura
estabelecer a relação entre o desejo irracional e a razão prática na tentativa
de explicar a relação harmônica existente entre a razão e os desejos, como
aquele age sobre estes, o transformando e o modificando em sua própria
natureza. Para isso é indispensável a compreensão do que o referido filósofo
chama de ações voluntárias e ações involuntárias. Naquela o sujeito é
responsável pela ação, enquanto nessa as ações praticadas são por ignorância ou
compulsão. Desse modo a ação involuntária tem na sua origem fatores externos ao
sujeito, conseqüentemente este não tem condições de exercer qualquer poder
deliberativo ou que venha impedir um ato. Nesse raciocínio enquanto nas ações
voluntárias o sujeito do ato age de maneira refletida, por outro lado, nas
involuntárias o agente não pode contribuir intencionalmente para o ato.
Sustentando seu argumento com muitos exemplos práticos de ações praticados por
seus referidos agentes, Aristóteles ressalta que, faltas cometidas por desejos
e cóleras, não devem ser caracterizadas como ações involuntárias, já que, ambas
as emoções, racionais e irracionais são igualmente humanas.
Partindo da ideia de que a ação voluntária é uma escolha,
pois esta é um resultado de uma deliberação prévia, e também uma parte da
vontade, Aristóteles afirma que “o desejo é contrário à escolha, mas o desejo
não é contrário ao próprio desejo; mais ainda: o desejo se relaciona com o
agradável e o penoso, mas a escolha não se relaciona nem com o penoso nem com o
agradável”. Nesse caso a escolha necessariamente apela para a razão e o uso do
pensamento. Nessa perspectiva, de acordo com o filósofo a escolha é boa ou má,
ou seja, “...é nossa escolha do bem e do mal que no faz homens de um certo
caráter...”.
A
tendência não correta ao fim: o mal moral
Aristóteles define o homem malvado como
aquele que não alcançou a maturidade ética, por desobedecer às regras morais.
Com a finalidade de diferenciar as pessoas malvadas, ele elaborou cinco perfis:
akolastos, malakos, theriotes, kakos e o akrates.
O akolastos é aquele que conscientemente
de forma deliberada se deixa dominar pelo prazer e nunca se arrepende de ser
dominado por ele, o filósofo o compara com a criança indisciplinada. O malakos
é aquele que tenta evitar a dor a todo custo. O theriotes é considerado o
monstro o oposto do divino. O agente acrático é aquele que apesar de fazer uma
avaliação correta de uma ação, sabendo suas reais consequencias, ainda assim,
cometem atos malvados, levados por uma paixão arrebatadora. Por fim, o kakos ou
moctheros é aquele que voluntariamente, delibera corretamente objetivando um
fim errado. Segundo Aristóteles, o kakos não teve uma boa educação e não
aprendeu as normas sociais, para ele seus atos são moralmente corretos.
Concluindo, para Aristóteles, apesar de
o homem malvado encontrar harmonia interior e prazer é necessário ser virtuoso
porque a virtude é parte integrante da felicidade, e felicidade não é um estado
de bem-estar social, mas sim qualquer atividade que o homem realize em vista de
um fim. Seja qual for a atividade ela visa a realização do homem, assim,
deve-se desejar de forma humana, ou seja, moral. O conjunto de fins que compõem
a felicidade tem que ser bons, devendo ser orientados pela razão prática à
efetivação do ser humano enquanto ser racional, social e amante da sabedoria.
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