sexta-feira, 12 de junho de 2015

O pensamento político de Thomas Hobbes















Thomas Hobbes (1588-1679) nasceu na Inglaterra, no dia 5 de abril de 1588 e morreu no dia 4 de dezembro de 1679, com 91 anos, foi teórico político, filósofo e matemático, viveu numa época em que a Inglaterra era dominada pelos Tudors e sofria o perigo da invasão da esquadra espanhola. Era filho de um vigário, e teve sua tutela confiada a um tio. Estudou em Malmesbury e Westport, entrando mais tarde para Oxford, cuja educação era de teor aristotélico e tomista. Mas Hobbes não admirava a filosofia de Aristóteles. Foi mais influenciado pelas ideias do mecanicismo do universo e pelo cartesianismo, comum entre os intelectuais da época. Conheceu o astrônomo Galileu Galilei, cuja ideia, ajudou na tentativa de desenvolver uma filosofia social.
Hobbes ao elaborar o seu pensamento político, criou hipoteticamente um mundo onde os homens eram livres - não deviam obediência a ninguém, não havia um detentor do poder soberano, um mundo em que os homens viviam apreensivos com receio de morrerem violentamente. Nesse contexto, o homem é mau, ambicioso, egoísta e age por instinto, ele percebia no outro um inimigo em potencial, havia um constante estado de guerra. Nesse mundo - estado de natureza - não há a possibilidade dos homens viverem em sociedade. Conquanto é que somente pelo uso da razão, é que estes homens percebem que, para acabar com os seus medos - guerra e morrer violentamente - deveriam renunciar parte dos seus direitos naturais, transferindo-os para um único ser, dotado do poder de decidir a vida e a morte de seus subordinados, surge a figura do Leviatã ou Estado Civil, fundamentado em um Contrato Social, Hobbes também aborda a função da igreja nessa nova sociedade.
O estado de natureza se refere numa situação na qual os homens vivem juntos sem a presença de um poder central que pudesse controlá-los, não há nesse estado, limite para o desejo e nem para o direito. Todos têm os mesmos direitos, poderiam fazer tudo o que quisessem, não havia direito de propriedade. 
POUSADELA (2006) citando Hobbes, que na natureza os homens são idêntico, tanto em força quanto na capacidade intelectual, devido que, por um lado a prudência não é mais do que experiência, e pelo outros, nada prova melhor, a distribuição equitativa dos talentos do que o fato de que cada um está satisfeito com aquilo que lhe foi dado. Além disso, Hobbes afirma que mesmo que os homens não fossem iguais, eles deveriam ser tratados como tais, pois assim é o que esperam que ocorra. No estado de natureza há 03 (três) paixões para a disputa: competição (pelo benefício); desconfiança (pela segurança) e a glória (pela reputação). Assim sendo, não havendo um poder centralizador que use de suas forças para impor sua vontade, aterrorizando os homens, o estado de natureza será um estado de guerra, real ou potencial.
O medo da morte violenta, o desejo de uma vida confortável e a esperança de alcançá-lo através do trabalho. São paixões favoráveis para paz tanto quanto para guerra. Em contrapartida, o desejo de glória só se encontra presente em favor a guerra.  É Nesse contexto, que entra a razão intensificando e redirecionando as três primeiras paixões, de forma que ela suplantem o desejo de glória ou orgulho.
Nesse jogo das paixões, a saída do estado de natureza se daria mediante a vitória de umas delas relacionadas a paz (o temor) sobrepor à outra, relacionada ao conflito (vaidade). Dessa forma, o medo substituiria a razão controlando as paixões destruidoras. Constituindo nesse processo a formação do Estado para garantir a preservação da vida humana e da boa convivência em comunidade. (Pousadela, 2006).
Assim sendo, concluindo a ideia de Hobbes a respeito do estado de natureza e a criação do Estado Civil. Na vigência do Estado Civil, Hobbes, passa a discutir qual é a função da igreja perante esse Estado.
Segundo CASTELO BRANCO VILLAS BÔAS (2004), para Hobbes, a secularização – o processo pelo qual a igreja perde a sua influência em variadas esferas da vida social - é compreendida na indivisibilidade do poder de um corpo político, isto é, a alma ou soberania do Estado reside na impossibilidade de se distinguir entre poder espiritual e poder temporal. Para Hobbes, não importava se o soberano do governo secular é um líder temporal ou espiritual, se é autoridade soberana representativa de um Estado Civil ou Cristão, pois neste mundo não há outro reino senão o secular.
Hobbes distingue o poder espiritual do poder temporal. No entanto, isso não se refere a ruptura do Estado e da Igreja, mas sim, para ele o poder da Igreja é espiritual. já o poder do Estado é temporal. A Igreja não poderia disputar com o Estado uma jurisdição temporal, haja vista que, Hobbes não concebia um Estado Espiritual neste mundo, pois conforme escrito na Bíblia Sagrada o Reino de Cristo não é deste mundo, mas existirá noutro, quando da ressurreição. Dessa forma, O Estado Absolutista de Hobbes não aceita nenhuma outra forma de poder - que tenha seja econômico, religioso ou qualquer outra espécie – que tenha condições impedir o seu direito político de orientar a ação humana neste mundo.
Na esfera pública compete à autoridade soberana representativa do Estado determinar qual religião deve ser adotada pelos cidadãos. Hobbes, no intuito de dirimir o problema da distinção entre espiritual e secular, ele subordina a Igreja ao Estado, transformando-a em um instrumento de poder político secular. Nisso reside à possibilidade do governante, se porventura julgar conveniente à ordem do Estado, investir-se das funções de um profeta ou um vice-rei de Deus na terra.
Dessa forma, neutralizar os conflitos que põem em risco a integridade de um corpo político, ou seja, que não haja poder senão o poder do Estado – Poder Absoluto – Assim, Hobbes não separa poderes, mas unifica-os nas mãos do domínio secular. Para ele, a religião não é estranha a política, pois não somente a íntegra, como, principalmente, constitui-se em um eficaz instrumento de dominação. Portanto, a autoridade dos soberanos terrenos em seus domínios é plena e o governo da religião faz parte do governo da política. Enquanto o que é de Deus não vem, ou seja, seu efetivo governo, dai-se pois, tudo a Cézar, em outras palavras, entregue a autoridade temporal o poder de regular a política bem como a religião (Castelo Branco Villas Bôas, 2004).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

POUSADELA. Inês. O contratualismo hobbesiano. [internet]. 2006. Disponível em: <http://www.biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/secret/filopolmpt/16_pousadela.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2015.
CASTELO BRANCO VILLAS BÔAS, Pedro Hermínio. Poderes invisíveis versus poderes visíveis no leviatã. [internet]. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n23/24619.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2015.



O Papel das letras na formação do filósofo em João de Salisbury














No mundo contemporâneo presenciamos um fenômeno de pessoas que apesar de saberem ler e escrever, não conseguem compreender, elaborar e interpretar de forma correta um texto e nem uma sentença matemática, são os chamados analfabetos funcionais, frutos de um modelo de educação conteudista, que não permite aos estudantes questionarem o conteúdo pedagógico que lhes é imposto. Nesse contexto, é relevante discutirmos sobre John de Salisbury, um dos mais importante pensador do período medievo, que assumiu vários cargos no Clero da Igreja Católica, chegando ao título de Bispo de Chartres, bem como foi autor de duas obras relevantes do século XII: Metalogicon (a Metalógica) e Policratus (o Político), bem como defendeu à manutenção do Trivium no ensino da época contrariando os cornificianos, também valorizava o aprendizado com os mestres da antiguidade, dando importância a memória na construção do saber. 
Na Metalogicon há uma enfática defesa do Trivium: estudo da gramática, da retórica e da dialética, contra à acusações de um tal cornificius que, supostamente seria um grupo de estudantes descontentes com o formato da educação da época, os quais defendiam a redução das disciplinas e das obras que deveriam estudar. Para os Cornificianos a leitura não era relevante, porque a capacidade retórica e a perspicácia intelectual eram dons naturais - natureza humana - e que o estudo da linguagem e da lógica não ajudavam a compreender o mundo. O que importava para eles era obterem carreiras lucrativas, parecendo ser sábios e não serem sábios (Santos & Costa, 2015). Em contrapartida, Salisbury considerava de suma importância trabalhar esta natureza, para que ela realmente fosse humana. Aos estudantes era exigido diariamente que, recitassem parte do que ouviram do dia anterior, aqueles que compreendiam as lições eram exaltados, aqueles que tinham dificuldades na compreensão eram castigados até mesmo fisicamente (LANZIERI JUNIOR, 2015). Nesse diapasão, LANZIERI JUNIOR (2015) citando Salisbury, afirma que a faculdade do homem de se expressar corretamente é o caminho pelo qual ele manifesta à natureza divina que o criou. Assim, para que o homem possa viver socialmente é necessário que ele saiba se comunicar corretamente, fazendo uso da linguagem para tanto. Em contrapartida, aqueles que possuem atitude diversas, estão sujeitos a degradação social - viverem como animais. Para Salisbury, segundo (Falcón, 2014), a leitura, o ensinamento, a meditação e o trabalho constante são fundamentais para o exercício de toda filosofia. A leitura tem como matéria-prima os textos escritos. Os ensinamentos, além de ter como referência os escritos, caminham para as coisas que ainda não foram escritas, mas que se encontram guardadas na memória, ou que sejam pelo entendimento do objeto por si mesmo. Já a meditação se estende até ao que é desconhecido, e frequentemente, se eleva as coisas incompreensíveis, desvelando tantos os aspectos manifestos do assunto, quanto os secretos. O trabalho constante, apesar de limitado pela compreensão preexistente, é ele o responsável por construir o caminho para o entendimento. Nesse contexto, a leitura, o ensinamento e a meditação geram o conhecimento. Dessa forma, a gramática é o fundamento e a raiz do conhecimento. No entanto, somente a graça opera o querer e o realizar do bem, faz um homem bom, e é ela mais do que qualquer coisa, que permite aos seus escolhidos a capacidade de escrever e falar corretamente, e lhes administra diferentes artes. Isso posto, percebemos a importância das letras na formação do filósofo no pensamento de salisbury, pois para ele, o que diferencia o homem dos demais animais é a sua capacidade de compreender e interpretar o mundo a sua volta, e que esse "dom divino", apesar de inato tem que ser trabalhado diariamente para que essa natureza possa ser tornar humana.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 SANTOS Beato Silva, COSTA Ricardo da. História da filosofia. Ufes. 2015.

 FALCÓN, Rafael. O ensino da gramática, John de Salisbury: tradução dos capítulos 23 e 24 do Torno 1 do "Metalogicon" (1159) [s.n]. 2014. [internet]. Disponível em: <http://revistaterminal.com.br/a-pratica-da-leitura-no-metalogicon-de-john-de-salisbury/>. Acesso em: 10 jun. 2015.

 LANZIERI JÚNIOR, Carlile. No tesouro seguro de nossa memória: A memória na concepção de três personagens do século XIII. Notandum, São Paulo/Porto, ano XVIII, n. 37, jan./abr., 2015. p. 29-48. Disponível em:<http://www.hottopos.com/notand37/2%20Carlile%20Lanzieri%20J%C3%BAnior.pdf>, Acesso em: 10 jun.2015. 

LANZIERI JÚNIOR, Carlile. Sobre os ombros de gigantes: os pilares clássicos do primeiro livro do metalogico (1159) de joão de salisbury (c.1120-1180). Disponível em: <http://medievalis.nielim.com/downloads/02/03.pdf>.Acesso em: 10 jun. 2015.