sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Papel das letras na formação do filósofo em João de Salisbury














No mundo contemporâneo presenciamos um fenômeno de pessoas que apesar de saberem ler e escrever, não conseguem compreender, elaborar e interpretar de forma correta um texto e nem uma sentença matemática, são os chamados analfabetos funcionais, frutos de um modelo de educação conteudista, que não permite aos estudantes questionarem o conteúdo pedagógico que lhes é imposto. Nesse contexto, é relevante discutirmos sobre John de Salisbury, um dos mais importante pensador do período medievo, que assumiu vários cargos no Clero da Igreja Católica, chegando ao título de Bispo de Chartres, bem como foi autor de duas obras relevantes do século XII: Metalogicon (a Metalógica) e Policratus (o Político), bem como defendeu à manutenção do Trivium no ensino da época contrariando os cornificianos, também valorizava o aprendizado com os mestres da antiguidade, dando importância a memória na construção do saber. 
Na Metalogicon há uma enfática defesa do Trivium: estudo da gramática, da retórica e da dialética, contra à acusações de um tal cornificius que, supostamente seria um grupo de estudantes descontentes com o formato da educação da época, os quais defendiam a redução das disciplinas e das obras que deveriam estudar. Para os Cornificianos a leitura não era relevante, porque a capacidade retórica e a perspicácia intelectual eram dons naturais - natureza humana - e que o estudo da linguagem e da lógica não ajudavam a compreender o mundo. O que importava para eles era obterem carreiras lucrativas, parecendo ser sábios e não serem sábios (Santos & Costa, 2015). Em contrapartida, Salisbury considerava de suma importância trabalhar esta natureza, para que ela realmente fosse humana. Aos estudantes era exigido diariamente que, recitassem parte do que ouviram do dia anterior, aqueles que compreendiam as lições eram exaltados, aqueles que tinham dificuldades na compreensão eram castigados até mesmo fisicamente (LANZIERI JUNIOR, 2015). Nesse diapasão, LANZIERI JUNIOR (2015) citando Salisbury, afirma que a faculdade do homem de se expressar corretamente é o caminho pelo qual ele manifesta à natureza divina que o criou. Assim, para que o homem possa viver socialmente é necessário que ele saiba se comunicar corretamente, fazendo uso da linguagem para tanto. Em contrapartida, aqueles que possuem atitude diversas, estão sujeitos a degradação social - viverem como animais. Para Salisbury, segundo (Falcón, 2014), a leitura, o ensinamento, a meditação e o trabalho constante são fundamentais para o exercício de toda filosofia. A leitura tem como matéria-prima os textos escritos. Os ensinamentos, além de ter como referência os escritos, caminham para as coisas que ainda não foram escritas, mas que se encontram guardadas na memória, ou que sejam pelo entendimento do objeto por si mesmo. Já a meditação se estende até ao que é desconhecido, e frequentemente, se eleva as coisas incompreensíveis, desvelando tantos os aspectos manifestos do assunto, quanto os secretos. O trabalho constante, apesar de limitado pela compreensão preexistente, é ele o responsável por construir o caminho para o entendimento. Nesse contexto, a leitura, o ensinamento e a meditação geram o conhecimento. Dessa forma, a gramática é o fundamento e a raiz do conhecimento. No entanto, somente a graça opera o querer e o realizar do bem, faz um homem bom, e é ela mais do que qualquer coisa, que permite aos seus escolhidos a capacidade de escrever e falar corretamente, e lhes administra diferentes artes. Isso posto, percebemos a importância das letras na formação do filósofo no pensamento de salisbury, pois para ele, o que diferencia o homem dos demais animais é a sua capacidade de compreender e interpretar o mundo a sua volta, e que esse "dom divino", apesar de inato tem que ser trabalhado diariamente para que essa natureza possa ser tornar humana.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 SANTOS Beato Silva, COSTA Ricardo da. História da filosofia. Ufes. 2015.

 FALCÓN, Rafael. O ensino da gramática, John de Salisbury: tradução dos capítulos 23 e 24 do Torno 1 do "Metalogicon" (1159) [s.n]. 2014. [internet]. Disponível em: <http://revistaterminal.com.br/a-pratica-da-leitura-no-metalogicon-de-john-de-salisbury/>. Acesso em: 10 jun. 2015.

 LANZIERI JÚNIOR, Carlile. No tesouro seguro de nossa memória: A memória na concepção de três personagens do século XIII. Notandum, São Paulo/Porto, ano XVIII, n. 37, jan./abr., 2015. p. 29-48. Disponível em:<http://www.hottopos.com/notand37/2%20Carlile%20Lanzieri%20J%C3%BAnior.pdf>, Acesso em: 10 jun.2015. 

LANZIERI JÚNIOR, Carlile. Sobre os ombros de gigantes: os pilares clássicos do primeiro livro do metalogico (1159) de joão de salisbury (c.1120-1180). Disponível em: <http://medievalis.nielim.com/downloads/02/03.pdf>.Acesso em: 10 jun. 2015.



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